Zaga Mattos
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OS PEQUENOS PECADOS
OS PEQUENOS PECADOS

Tadinha da OI. Basta mudar o tempo e ela já faz com que eu me lembre da minha mãe. Era só escurecer um pouco e relampear para ela aparecer na porta da cozinha e interromper meu futebol no quintal... - já pra dentro. Vai chover!
Se hoje a chuva tira minha TV a cabo do ar, o grito de minha mãe provocava mais um gol perdido em minha artilharia negativa. Só via a pequena bola de borracha passando rente a um dos dois tijolos que formavam a meta final de meus ataques fulminantes, travestidos no pensamento em Vavá, Pelé ou Garrincha, meus heróis da Copa de 58.
Estava, então, naquele período em que você não circula pela infância e tampouco é um adolescente. Ou seja, você não está no tatitibitate e menos ainda nas manhas da adolescência. As espinhas ainda não apareceram e nem a voz deu aquelas falhadas. Um período em que você ou sai à procura de bandidos imaginários atrás das bananeiras, faz guerra de mamonas ou corre atrás de uma bola querendo dar uma bicicleta no melhor estilo Leônidas e acaba estatelando a bunda no chão. Assim, vivendo numa pequena cidade do norte paranaense, tive uma espécie de ano sabático e fiquei naquela do “deixa correr”: minha primeira série ginasial foi interrompida com a nossa mudança para lá. Funcionário público – função quase incompatível com seu espírito “hay gobierno, soy contra”!- me pai acabou sendo transferido para a cidade nascida no meio de cafezais. Poucas ruas e muitas delas, de terra vermelha, sulcadas por enormes voçorocas. Para a garotada, aquilo que era problema aos mais velhos, era verdadeira diversão. Nosso Velho Oeste, brincando de Roy Roger, Gene Autry, Zorro ou pista de obstáculos para corridas onde o último a chegar era chamado de “mulher do padre”. Para o descanso dos guerreiros, os galhos mais altos das mangueiras existentes no terreno fronteiriço da igreja. Ali, num descampado todo gramado, destacava-se o negro cruzeiro (revestido de piche para proteção contra as intempéries), com a inscrição “INRI – Salva a tua alma”. Era a marca visível da passagem dos padres das Missões a lembrar da importância do amor e obediência aos preceitos da Santa Madre Igreja.
No alto da mangueira víamos o cruzeiro e inocentemente ofendíamos dois pecados capitais: a Gula (chupando uma manga atrás da outra) e a Preguiça, em nossa indolência ao sol. Vez ou outra infringiamos novos dispositivos ao alcançarmos a manga-espada mais bonita. A Soberba nos ameaçava... E se o amigo a alcançara, a Inveja, então, batia forte.
Hoje penso se na hora do - “Eu, pecador, me confesso a Deus todo-poderoso e a vós, irmãos, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa” – algum de nós citou os pecados da mangueira.
Agora, ao ver a Mangueira, não mais aquelas frondosas e generosas, é inevitável a transgressão pelas passistas luxuriosas... E dadivosas. Mas aí o pecado, porém, fica mais fácil de sublimar... É apenas por pensamento!

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Zaga Mattos
Enviado por Zaga Mattos em 19/01/2018
Alterado em 22/01/2018
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