Zaga Mattos
CONVERSA NAS HORAS ZAGAS
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PASSEIO PELA MEMÓRIA

1° de janeiro de 1964 – Uma data marcante na minha vida. Na segunda-feira fará, portanto, exatamente 54 anos que eu saía da pequenina Sengés, no interior do Paraná,, onde passei a adolescência e início da juventude, para estudar em Curitiba. A bagagem comportava poucas roupas, mas estava abarrotada de sonhos e esperanças. Embora deixasse para trás meus cenários de adolescência levava dentro de mim a minha família, meus amigos. O som do motor do velho ônibus da Penha não conseguia abafar a música que eu parecia ouvir, vindo da radiola do Olímpico. Essas sensações, com o avanço na estrada, foram abafadas pela ansiedade de ingressar numa nova vida. Uma vida envolta numa cortina de mistério, numa cidade que me parecia assustadora ao mesmo tempo em que tinha tons de encantadora. E sair de Sengés indo para Curitiba era uma espécie de Caminho das Índias, tal a precariedade das estradas. Curitiba não me era totalmente estranha, pois já morara em Curitiba, por um ano, em 1955, com meus pais. E estivera a passeio pela cidade em outras visitas anteriores. Lembro-me dessas viagens quando na cidade me encantavam as luzes de neon das vitrines, os milk-shakes das Lojas Americanas, os imensos painéis à entrada da capital paranaense. Aos meus olhos de garoto do interior era a metrópole, tipo daquelas que via nos gibis.
O fascínio teve o poder de afastar por momentos a tristeza da despedida. Embarquei bem na frente de minha casa, lá na Expedicionário Anélio da Luz, 115, onde era a coletoria de rendas e que depois abrigou delegacia, etc, etc, até ser hoje um imóvel abandonado. Estivesse ainda hoje por lá seria certamente uma casa com todo o jeito de lar, tal era o carinho que tínhamos por ela. O ônibus partiu e pela janela via meus pais com lágrimas nos olhos, naquela manhã que deveria ser o festivo dia de primeiro de ano. Ficava meu pai sem o seu companheiro das pescarias na “pedrinha” nos finais de tarde e minha mãe já não iria preparar com tanta assiduidade os bolos e doces que eu tanto gostava. Mas, tinha certeza de que a tristeza do momento eles trocariam pela alegria de ver o filho sair do ninho com suas próprias asas para alçar voo.
Olhei o Jaguaricatu com uma tristeza dolorida. Pensei que logo mais tarde a curva do rio, logo após a ponte, atrás da casa do José Safka, estaria com a “turma” se banhando, numa festa de feriado com muito calor. A cada casa que passava já olhava com saudade. E ao olhar para trás, vendo a cidade desaparecer, fez surgir outro sentimento: o da importância do momento. Saía de Sengés em busca do meu futuro!
Nesses 54 anos muita água do Jaguaricatu passou por debaixo da ponte. Meus cabelos negros e longos (ao melhor estilo da época) ficaram escassos e grisalhos; meus quatro filhos e quatro netos evidenciam bem a passagem do tempo. Fiz os cursos de Direito (OAB 10.906) e Comunicação Social. Mas vivo do Jornalismo há 49 anos!
O 1° de Janeiro de 1964 ficou para trás. Nesses 54 anos minha vida teve alegrias e tristezas, como é normal para todos. Todavia, a marca do tempo não conseguiu apagar de minha lembrança os tempos vividos em Sengés! A tal ponto que anos atrás lancei pelo Orkut (de saudosa memória) o grupo “Salvem o Jaguaricatu!” – que foi um sucesso de adesões.
Hoje, às vésperas do 1° de janeiro de 2018, tenho a alegria de ver o grupo Sengés Memória, que criei há cinco anos, atingir a marca de 1583 amigos. E mais do que isto: Sengés Memória tem reunidos amigos espalhados por aí e, por certo, tem sido o fermento para fazer crescer ainda mais o amor por uma cidade!
Feliz 2018 para todos nós!
Zaga Mattos
Enviado por Zaga Mattos em 30/12/2017
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